Janelle Monáe nos desafia a fundir o afrofuturismo com nossa consciência em seu novo livro

2018 BET Awards - Arrivals - Los Angeles, California - Janelle Monae. REUTERS/Danny Moloshok TPX IMAGES OF THE DAY

Janelle Monáe e seu livro The Memory Librarian: and Other Stories of Dirty Computer

Janelle Monáe nunca se esquivou do tema. Sua música frequentemente explora o afrofuturismo, o poder e o empoderamento negro. Seu mais novo empreendimento não é diferente. Em 19 de abril, Monáe, em conjunto com os coautores Alaya Dawn Johnson, Danny Lore, Eve L. Ewing, Yohanca Delgado e Sheree Renée Thomas, lança o livro — The Memory Librarian: and Other Stories of Dirty Computer — que constrói um universo que desafia os constrangimentos da censura, da história e do acesso ao pensamento individualista. A revista americana ‘Ebony’ sentou-se com Monáe   para conversar sobre seu novo livro, bem como discutir como podemos garantir um futuro mais inclusivo através de nossas memórias. O entrevistador iniciou a conversa com Janelle afirmando que, ela se tornou muito conhecida por fundir conceitos de afrofuturismo e um senso de consciência em sua música em várias formas de arte e estilo. E, então, a questionou como surgiu o The Memory Librarian.

Imagem Janelle Monáe

Monáe respondeu que o  The Memory Librarian é da mesma “safra” que seu álbum de 2018,  Dirty Computer. Que sempre soube ter mais a dizer e sabia haver mais personagens para desenvolver a partir do projeto!

A artista afirma que também sabia que lutaríamos pela censura referindo-se a que está acontecendo na Flórida e no Texas, onde estão tentando eliminar a Teoria Racial ao proibirem de falar sobre ser LGBTQ+ nas escolas, omitindo as pessoas sobre suas identidades e conhecimento do passado. Monáe esclarece que, além disso, a pandemia foi uma grande aliada a reflexões, conseguindo dar espaço mental para fazer esses tipos de experimentos mentais por meio da narrativa. Então, imaginou que se houvesse uma mulher que estivesse neste tipo de mundo totalitário onde estão tentando censurar as memórias das pessoas, ela guardaria as memórias de todos como uma guardiã da memória? Como seria a vida dela? Se ela almejasse se apaixonar, como poderia fazê-lo tendo o conhecimento dos segredos de todos? Janelle, então afirmou ter tido outro experimento mental onde pensava mais sobre o mundo do ‘Dirty Computer’, e passou a supor algumas possibilidades a esta personagem, que se houvesse um quarto em seu apartamento que ela não sabia existir e o tempo parasse ao entrar neste quarto, como gastaria seu tempo? Se ele congelasse e pudesse fazer o que quisesse? Ela recuperaria o seu descanso?

Imagem Janelle Monáe

A partir, daí, Monáe sabia querer fazer algo mais inovador no espaço literário. Como ‘Dirty Computer’ era muito sobre o universo da música, era importante que ela colaborasse com artistas e escritores do mundo literário. A artista desabafou que conseguir colaborar com escritores negros e pardos foi um sonho, porque estavam apenas ‘afiando as espadas’ um do outro durante todo esse processo.

Em The Memory Librarian , há um conceito em espaço de tempo parado. E, como negros, ela afirma que a nossa memória coletiva está fragmentada devido a diferentes atrocidades que as comunidades negras enfrentaram ao longo do tempo, causando apagamento dessas memórias. A arte da escrita pode compartilhar como essas memórias podem redescobrir a história de alguém e reparar esses pedaços de tempo fragmentados, especialmente à medida que avançamos nessa paisagem digital.

Janelle Monáe, acredita que nossas memórias determinam a qualidade de nossa vida e  também nos ajuda a imaginar visões maiores para nós mesmos. “…Nossos ancestrais eram muitas vezes incapazes de recordar memórias por serem arrancados de sua herança. Quando a história é apagada, não temos a oportunidade de sermos melhores no presente e não temos a oportunidade de sermos melhores no futuro. Portanto, é verdadeiramente através de nossas memórias que estamos essencialmente julgando a qualidade de nossas vidas. Minha esperança é que possamos continuar a ter conversas que nos permitam falar sobre o tipo de novas memórias que queremos fazer. Isso é o que eu amo em ser uma contadora de histórias, uma escritora — poder falar sobre afrofuturismo aos negros. Esse é o conceito. Podemos determinar como será o nosso futuro. Então, minha esperança é que isso desperte mais conversas sobre como podemos prosperar de novas maneiras…”- Monáe, Janelle.

Imagem Janelle Monáe

Ao ser questionada o que achava sobre a grande pressão por parte de certos funcionários do governo e parte da população que seguem em direção à censura de pensamentos e ideias. E, se ao embarcar neste projeto, houve algum sentimento de medo ou apreensão em contar essas histórias sabendo haver um movimento de opressão caótico acontecendo no mundo, Monáe explanou, “… Eu penso que sempre que os escritores estão usando sua imaginação, falando sua verdade e tirando da realidade, é uma coisa poderosa. Há fantasia neste livro com ficção e ficção científica, mas há alguma realidade nele, sendo minha meta de futuro. Minha obra, em última análise, centram negros e pardos no meio de outros que tentam oprimir e impedi-los de falar a verdade ao poder. Espero que este livro sirva como um lembrete de que, ao longo da história, pessoas marginalizadas sempre se levantaram. Por causa disso, nunca tenho medo de irritar o valentão ou qualquer um que esteja tentando nos distanciar de nossa verdade…”

Imagem Janelle Monáe

Outro ponto, colocado pelo entrevistador a Janelle, é o fato que a medida que avançamos para um cenário social cada vez mais digital como Web 3.0, NFTs e o metaverso, o que ela pensa sobre negros encontrarem seu lugar nessa nova experiência digital, a resposta de Janelle Monáe, foi curiosa,“…Bem, você sabe, eu sou um Android, então eu entendo tudo isso. Quando eu saí com meu alter-ego Cyndi Mayweather e Metropolis, para meus álbuns ArchAndroid e Electric Lady, respectivamente, eu realmente entendia elementos de viagem no tempo, vida no futuro, realidade virtual — tudo isso. Acredito que as coisas ainda estão sendo reveladas neste espaço; no entanto, as pessoas estão se movendo com o cenário digital em uma taxa exponencial agora e é uma coisa linda de se assistir. Também pode ser uma coisa muito desconfortável de assistir, porque você não conhece todo o escopo da Internet ou qual é o nosso limite. Qual é o lado ruim disso? O lado bonito disso é que as comunidades estão se formando e querendo se envolver e ter visibilidade nesse espaço. Então, eu ainda estou formando meus pensamentos sobre isso. Mas apenas entenda que eu sempre pensei fora da Terra e sempre pensei em construir o mundo e trazer comunidades para diferentes portais de comunicação e do mundo…”

Imagem capa do livro de – Janelle Monáe – The Memory Librarian

O livro The Memory Librarian: and Other Stories of Dirty Computer, está sendo comercializado na plataforma, Amazon.com,  no valor de $24 (dólares).

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *