O que é o Afrofuturismo? e como impacta a sociedade, moda e arte

Black to the Future

O movimento surgiu na década de 30 em uma experiência do músico de jazz, poeta e “filósofo cósmico” — Sun Ra, que, em um momento de inspiração, imaginou um futuro em que a sociedade absorveria a representatividade negra. Porém, o termo “afrofuturismo” foi empregado pela primeira vez somente anos mais tarde pelo teórico e crítico cultural Mark Dery. Dery, um homem branco, que em 1994 publicou um ensaio intitulado Black to the future, literatura de ficção científica que vislumbrava o futuro social dos negros, classificando a obra como afrofuturista.

Com destaque na mídia, o movimento, até então literário, se expande e ganha notoriedade tornando o afrofuturismo um movimento multicultural contemplando diversas vertentes da arte; tais como moda, música, pintura e cinema. Algumas das personalidades ligadas ao movimento, podemos dar destaque a Octavia Butler — primeira mulher negra a ganhar visibilidade como escritora de ficção cientifica, o renomado artista plástico Basquiat e sua arte visionária afrofuturista, o diretor de cinema Spike Lee e seus filmes de temas afrocentrados e a atriz Lupita Nyong’o e a cantora, e compositora Beyoncé devido grande, contribuição ao cinema e a música afrofuturista.

Material de divulgação do livro Moda, Estética e Comportamento do Afrofuturo – Editora Life — Autora: Carol Lee Lemos Dutra

Recentemente, surgiram no cenário musical artistas como Petite Noir, músico e produtor radicado em Cape Town, África do Sul, que inaugura o estilo por ele denominado “noirwave”, literalmente onda negra em uma mistura de francês e inglês. Em entrevista ao site The Fader, Noir afirma “com o noirwave eu estou desafiando como fomos treinados a pensar que tudo que é branco é inovador”. Durante muito tempo artistas brancos foram celebrados por repensar materiais globais, porém, com o avanço da internet a hegemonia ocidental vem perdendo espaço enquanto outras culturas, em especial a africana, conquistam terreno com acesso a costumes de outros povos inspirando-se neles assim como serviram de inspiração.




 

Afrofuturismo é um movimento em ascensão que visa a difusão e ampliação de estéticas e culturas africanas através da união de códigos tribais e de ficção científica

O comportamento da sociedade do afrofuturo reflete na estética dos indivíduos afro-brasileiros e tende a ser o resultado natural dos desdobramentos das ações e do comportamento da sociedade norteada por sentimentos de empoderamento e luta. A desconstrução do padrão de beleza eurocêntrico imposto pelos meios de comunicação de massa no Brasil está vinculada a crescente conscientização política da juventude negra, aqui representada pela geração afrofuturista, que luta pelo resgate e afirmação da estética de seus ancestrais tendo em vista o cenário de invisibilidade imposta a afro-brasileiros por uma sociedade, ainda muito racista.

Imagem representando a estética e moda da sociedade afrofuturista

Na atualidade, podemos observar uma crescente aderência a estética revolucionária da ‘geração do empoderamento black’. Geração inspirada no movimento afrofuturista que combina o resgate da mitologia e da ancestralidade africana com elementos tecnológicos a favor do fortalecimento a estética afro. Essas pessoas, em sua maioria de etnia negra, abusam das cores, texturas, brilho, penduricalhos e do uso diversificado dos cabelos que variam em cores e estilos, podendo ser black power, trançados, dreads, descoloridos, entre outros. No que vestem, não há regras inflexíveis, sendo o principal objetivo resgatar a identidade e a estética visando o empoderamento negro.

A esta geração que está agindo em prol do coletivo, me dou a liberdade em somar os sujeitos percebidos muito além da estética lacradora no que vestem, incluo todos os cidadãos (pretos e brancos) de posicionamento revolucionário (visionário) que corroborem por ações, projetos e posicionamentos afrocentrados em prol do fortalecimento da sociedade afro-brasileira.

Imagem do projeto do coletivo: @cacau_urbano Modelo: @bianca_ssoares Direção artística: @yeslabright

“…de maneira lúdica e ilustrada, a moda e a estética dos povos revelam e preservam muito da história e do comportamento de
uma determinada sociedade. O que de nossa própria história, como brasileiros e afrodescendentes estamos contando, há séculos,
através do que nos vestimos e de nossa estética? Começar a ilustrar a história de nossos ancestrais negros no presente e sob
a ótica afrocêntrica, é urgente como garantia a perpetuação da cultura e da estética negra no afrofuturo…”
— Carol Lee L. Dutra.

Afrofuturismo e a moda

No cenário da moda o afrofuturismo vem aparecendo com crescente frequência. A cantora americana Beyoncé usou a grife francesa Balmain no festival de música Coachella de 2018. O look, uma releitura da rainha egípcia Nefertiti, trazia elementos geométricos destacados em dourado, prata e pedrarias. O jornal The New York Times afirmou que o show da cantora “foi tanto tributo ancestral quanto continuidade cultural — uma elevação da feminilidade negra — como um concerto contemporâneo”.

Imagem do projeto do coletivo: @cacau_urbano Modelo: @bianca_ssoares Direção artística: @yeslabright

 

Na literatura de moda, destaca-se o livro “Moda, Estética e Comportamento do Afrofuturo”, publicado pela Life Editora, a designer de moda Carol Lee Lemos Dutra apresenta alguns aspectos de como os negros criam narrativas que celebram sua identidade e história. “Na moda eurocentrista, o padrão estético tem o europeu no centro. No Afrofuturo, a ótica afrocentrista, não coloca ninguém acima de ninguém, iguala todas as culturas e mostra a moda como identidade, para expressão”, explica.  Carol cita no livro, exemplos específicos de protagonismo negro na moda, como Milena Nascimento, de 22 anos, que estreou sua etiqueta de roupas autorais na São Paulo Fashion Week.

Material de divulgação do livro Moda, Estética e Comportamento do Afrofuturo – Editora Life — Autora: Carol Lee Lemos Dutra

No cinema o filme da Marvel “Pantera Negra” trouxe a indumentária africana como um dos elementos mais marcantes da sua narrativa, que se passava na cidade fictícia de Wakanda na África. O figurino do filme, concorrente ao Oscar, foi inspirado em diversas tribos espalhadas por todo continente africano. Tons de vermelhos terrosos vieram do povo Himba, do noroeste da Namíbia, marcas dos corpos de guerreiros remetem às tatuagens e cicatrizes das tribos Surma e Mursi da Etiópia enquanto a coroa utilizada pela rainha Ramonda assemelha-se aos acessórios de cabeça usados por mulheres casadas do povo Zulu.

 

 

 

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