Conheça as pioneiras designers negras de moda

Elizabeth Keckley, Fannie Payne, Anne Lowe e Zelda Wynn Valdes foram as designers negras pioneiras de moda

Elizabeth, Fannie, Anne e Zelda, foram as primeiras designers negras da moda e estiveram longe de qualquer reconhecimento histórico de seus trabalhos até as últimas décadas. Essas quatro mulheres estiveram no auge de suas carreiras entre os anos de 1860 a 1960. Na época, receberam o título de “costureiras”, porém ao passar dos anos foram reconhecidas como sendo as pioneiras designers de moda. O que essas quatro mulheres tinham em comum era não vestirem pessoas comuns. Elas vestiram a elite da sociedade, esposas de políticos e artistas da época. Seus talentos representaram a herança da mão-de-obra negra feminina da costura hábil de seus ancestrais. Elas aprenderam a desmontar as roupas prontas e recria-las sozinhas e foram as melhores designers de moda de seus tempos.

 

Designer de Moda
Designer de Moda

 

A história dessas mulheres foram estudadas para o projeto  “A Study of Eight”, um editorial com curadoria que avança no estudo da contribuição dos afro-americanos para a história da moda.  Para entender como suas conquistas foram extraordinárias basta voltar ao passado e entender como o sistema de desigualdades raciais de Jim Crow (pós-Guerra Civil — 1968) era opressor. E contra todas essas adversidades, elas alavancaram seus talentos na criação de moda, usaram o poder transformador da moda em sua própria identidade enquanto representavam uma identidade cultural negra realizada e de progresso.

Elizabeth Hobbs Keckley [1818–1907]

Conhecida como a costureira e confidente de Mary Lincoln. Ela aprendeu costura, leitura e escrita com sua mãe.  Keckley construiu uma empresa de costura de sucesso em St Louis, Missouri e mais tarde em Washington DC. Seus clientes incluíam alguns dos mais elitistas, incluindo Varina Davis, esposa de  Jefferson Davis , e  Mary Anna Custis Lee, esposa de  Robert E. Lee . Keckley conheceu Mary Lincoln no primeiro dia de mandato do presidente Lincoln.  De acordo com Elizabeth Way, historiadora e curadora do The Museum no Fashion Institute of Technology, Keckley fez de 16 a 17 vestidos na primeira primavera em que trabalhou para Lincoln. O vestido que Keckley criou para Mary Todd Lincoln foi usado na segunda cerimônia de inauguração e recepção de seu marido, sendo atualmente mantido no Museu de História Americana do Smithsonian. Ela também escreveu e publicou uma autobiografia, Behind the Scenes: Or, Thirty Years a Slave and Four Years in the White House (1868).

Elizabeth Keckley
Elizabeth Hobbs Keckley

Fannie Criss Payne  [1866 – 1942]

Fannie Criss, nasceu livre de pais escravos no condado de Cumberland, Virgínia, aprendeu a arte da costura com sua mãe. A família mais tarde mudou-se para Richmond, onde Criss Payne se listou como costureira na seção de classificados de negócios do diretório da cidade; das 132 mulheres listadas como costureiras em 1902, 112 eram brancas e 20 negras. Ela desenvolveu um negócio de sucesso. Seu uso de materiais finos em vestidos lindamente desenhados e trabalhados lhe rendeu uma reputação de respeito entre a clientela predominante branca, em uma época que patrocinar negócios de propriedade de negros era algo inédito.

 

Vestido criado pela estilista Fannie Criss Payne
Vestido de tarde criado pela estilista Fannie Criss Payne, por volta de 1905 — crédito: The Valentine Museum – Richmond, VA

Criss Payne foi considerada a principal “costureira” de Richmond no início do século XX.  Em janeiro de 1904, a revista The Voice of the Black, traçou o perfil de Payne: “A melhor costureira de Richmond, independentemente da cor, é a Sra. Fannie Criss Payne. Sua lista de clientes é composta pelas melhores famílias brancas de Richmond. Tão grande é a confiança em sua habilidade e gosto que muitos deixam para ela a escolha de seus looks completos. Nos últimos seis meses ela fez enxovais para as noivas mais populares. ”

Elizabeth Way, historiadora e curadora do Museu do Instituto de Tecnologia da Moda, fala muito bem de seu trabalho, “era a roupa da melhor qualidade que essas mulheres poderiam conseguir em qualquer lugar fora de Paris. Ela era realmente uma costureira habilidosa. ”

Criss Payne acabou se mudando para Nova York, já que muitos negros migraram do sul devido às barreiras de cor. Lá ela construiu um  próspero ateliê de design de moda para mulheres negras ricas, estrelas da Broadway e atrizes de cinema. Gloria Swanson, que já foi a atriz mais bem paga de Hollywood, foi uma de suas clientes mais proeminentes. Uma vizinha sua muito conhecida era  Madame CJ Walker, com quem ela também tinha uma grande amizade. Madame CJ Walker, que inventou uma linha de produtos para os cabelos afro-americanos, era conhecida como uma das primeiras mulheres americanas a se tornar milionária. Criss Payne desenhou vestidos para a filha de Madame Walker, A’Lelia Bundles.

Ann Cole Lowe  [1898 – 1981]

A conquista de toda a vida de Lowe e pelo qual a tornou famosa na indústria da moda, foi ter desenhado os vestidos da festa (madrinhas) e da noiva do casamento de Jacqueline Bouvier, na época, a futura primeira-dama dos Estados Unidos, com o noivo John F. Kennedy, em 1953. O vestido de noiva foi o mais fotografado e icônico da história americana e custou míseros $ 500 considerando os altíssimos preços atuais.

A história contada por sua sobrinha, Dra. Lenore Cole Alexander, do livro The Fabric of Time, é que quando a estilista chegou à porta da frente da propriedade de Bouvier, ela foi instruída a contornar a entrada dos empregados. E Lowe disse:  “se eu tiver que entrar pela porta dos fundos, a noiva e as damas de honra não estarão vestidas para o casamento”.  Ela foi admitida pela porta da frente.

 

Ann Lowe
Ann Cole Lowe

 

Com sua experiência e especialidade em fazer vestidos de debutante e de noiva, ela pegou as habilidades da costura artesanal do século XIX e as combinou com uma ideia mais moderna de ‘design’ de moda. De maneira visionária, Ann Cole etiquetou suas roupas com seu próprio nome, como vemos os ‘designers’ fazerem até hoje, conseguindo assim, visibilidade de seu trabalho na imprensa nacional.

Vestido desenhado por Anne Cole Lowe
Vestido desenhado por Anne Cole Lowe | Foto de Jacqueline Kennedy em seu vestido de noiva na edição de dezembro de 1966 da Ebony Magazine

Lowe conquistou uma clientela de elite tornando seu negócio exclusivo. Seus  ‘designs’ únicos foram procurados por mulheres ricas e socialmente proeminentes de 1920 a 1960, vestindo os  Rothschilds, Roosevelts, Rockefellers e Vanderbilts. Embora desconhecido para a maioria na época, Lowe fez parte da era do Renascimento do Harlem, onde houve uma efusão de trabalhos artísticos na comunidade negra.  Em 1946, Lowe desenhou o vestido que a atriz Olivia de Havilland usou para receber o Oscar de Melhor Atriz.

Zelda Barbour Wynn Valdes  [1901 – 2001]

Foi uma estilista afro-americana de moda e figurino. Em 1948, Valdes foi a primeira ‘designer’ negra a abrir sua própria loja, “Zelda Wynn”, e afirma ser a primeira empresa de propriedade negra na Broadway em Nova York. Seus ‘designs’ foram usados ​​por artistas famosos como Dorothy Dandridge, Joyce Bryant, Marian Anderson, Josephine Baker, Ella Fitzgerald, Mae West, Ruby Dee, Eartha Kitt e Sarah Vaughan, entre outros.

 

Zelda Barbour Wynn Valdes
Zelda Barbour Wynn Valdes

Em 1949, Valdes foi eleita presidente da Associação Nacional de Designers de Moda e Acessórios (NAFAD) de Nova York, uma organização de ‘designers’ negros, fundada pela educadora e ativista política Mary McLeod Bethune.

Em 1958, o  fundador da Playboy Magazine, Hugh Hefner, contratou Valdes para projetar as primeiras fantasias da Playboy Bunny, que fizeram sua estreia formal na abertura do primeiro Playboy Club em Chicago, Illinois, na noite de 29 de fevereiro de 1960.

Em 1970, Arthur Mitchell, o primeiro dançarino afro-americano do New York City Ballet, pediu a Valdes que desenhasse figurinos para o Dance Theatre do Harlem. Ela desenhou figurinos para 82 produções.

 

 

 

2 thoughts on “Conheça as pioneiras designers negras de moda

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